sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Um desabafo...

Geneticamente, os homens, independentemente de qualquer característica a ser comparada, são 99,9% idênticos. A variação do nosso código genético é mínima: duas vezes menor do que a do genoma dos, absolutamente iguais, pinguins. Ao menos biologicamente, segregar alguém por ser "diferente" me parece idiotice. Vejo, por exemplo, a cor da pele como um resultado de um breve período sob ação da seleção natural. Precisamos de vitamina D para incorporar o cálcio aos nossos ossos e evitar doenças como a osteoporose. Para que a pele possa sintetizá-la, necessita de radiação da luz solar. Por outro lado, muito ultravioleta induz um pigmento escuro chamado melanina. Assim, é natural que os menos pigmentados estivessem em desvantagens nos trópicos, pois sofreriam queimaduras terríveis. Teriam de caçar em horários em que a radiação fosse menor e morreriam muito precocemente por infecções ou câncer de pele. Nas regiões temperadas, por outro lado, os mais pigmentados sofreriam com osteoporose e fraturas frequentes - uma vez que não existia um suplemento vitamínico pré-histórico. Algum desses espécimes passa a ser mais puro ou mais digno por causa dessa simples adaptação bioquímica à luz solar? Por pensar dessa forma é que encaro alguns termos politicamente corretos como babaquice. "Afro-americano" é o indivíduo cujo pais são negros angolanos ou brancos egípcios? Todos são "afro-descendentes", parentes de Lucy. A única diferença é que os negros saíram de lá, no máximo, há uns quinhentos anos, enquanto os antepassados dos brancos já haviam migrado para a Europa e Oriente Médio havia cinquenta mil anos. Desculpe-me, mas um "ministro da igualdade racial" apoiado pelas "comunidades negras" parece só piorar o problema. Deveria ser "ministro da igualdade" apoiado pela "comunidade".

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Gardenal não cura preconceito


Hoje me deparei com um comentário absolutamente infeliz em um blog que sigo. Não apenas porque ofendia gratuitamente a autora em seu blog pessoal (o que, para mim, é o mesmo que bater na porta de alguém, entrar em sua casa e começar a criticar veementemente a disposição dos móveis na sala), mas também porque a "xingava" de louca e, com muita pompa e autoridade, sugeria que a mesma tomasse um "gardenal". Foi impossível conter o mal-estar que a vergonha alheia me proporcionou.
É impressionante ver como as pessoas repetem as coisas sem gastar um segundo de reflexão para avaliar se o eco do que estão fazendo tem o mínimo de sentido. Não vou nem entrar no mérito do quanto é insano (rá!) rotular alguém como louco ou normal. Afinal, o que é o normal? O que é "loucura"? Quem define? E aquele que se acha capaz de definir é normal o suficiente para isso? Deixando a metalinguagem de lado, na minha opinião, o "normal" inexiste. Há apenas o comum e o incomum, baseado em estatísticas e comparações - para todo e qualquer tipo de comportamento.
Ninguém é obrigado a estudar farmacologia antes de abrir a boca, eu sei. Só que, hoje em dia, o google está literalmente na palma da mão. Não levaria nem dez segundos para descobrir que o Gardenal (nome comercial do fenobarbital) não é uma poção mágica que torna as pessoas "normais" e aceitáveis aos olhos da sociedade. É apenas um medicamento antigo usado para tratar e prevenir convulsões ou "ataques epilépticos", como as pessoas adoram falar.
Se considerarmos que desde a Mesopotâmia e até a Idade Média (muito antes da invenção do Gardenal), as convulsões eram atribuídas à possessão por deuses demoníacos e as pessoas que convulsionavam estariam fora de si mesmas, sendo atacadas por espíritos do Mal, até dá para entender a origem da ofensa "Vai tomar seu gardenal, sua louca". Por outro lado, se a pessoa repete esse pseudo-xingamento sem nem saber se ele faz sentido, considero praticamente impossível que ela tenha tido interesse ou capacidade de pesquisar o tema com toda a profundidade necessária para saber disso.
Infelizmente, a ciência ainda não desenvolveu um medicamento capaz de tratar a Síndrome do Papagaio. É uma pena, pois realmente acredito que isso acabaria com inúmeros tipos de preconceito (sempre oriundos da falta de informação). Já que não dá para pedir para o governo incluir senso crítico e informação no Farmácia Popular, vou me contentar em pedir para que, pelo menos, a ofensa do gardenal seja abandonada. E, se for muito incapacitante abandonar o hábito de ofender pessoas gratuitamente, que você se informe antes de fazer isso. Vai continuar não sendo legal, mas, pelo menos, você vai demonstrar não ter séculos de desinformação.

sábado, 29 de outubro de 2011

Opção sexual: uma questão de cérebro



Quando chega a hora do sexo, você gosta de homens ou mulheres? Acha que isso é uma escolha consciente ou a mera constatação das preferências do seu cérebro? Acredita que um único gene possa interferir no seu comportamento? Preferência sexual, afinal, é biologia ou psicologia?
Sexo é um assunto tão importante em termos biológicos, sociais e evolutivos (afinal, é o que torna possível a continuidade das espécies) que existem regiões do cérebro dedicadas a ele. Várias ficam no famoso hipotálamo, estrutura responsável pela regulação  de diversos aspectos do funcionamento corporal, como a freqüência cardíaca, pressão arterial e, acredite, comportamentos razoavelmente complexos como a aproximação com fins sexuais e até mesmo a cópula.
Mexa no hipotálamo do jeito certo e você alterará o comportamento sexual do animal. Um estudo mostrou que o bloqueio da produção de um único receptor para hormônios femininos em uma área da região hipotalâmica é suficiente para abolir o comportamento sexual de camundongas. Com o hipotálamo – e somente Ele – tornado insensível ao estrogênio, camundongas adultas deixam de aceitar investidas dos machos. Pior: elas passam a rejeitá-los. E tudo isso porquê um único gene foi silenciado.
Outros artigos põem mais lenha na fogueira da preferência sexual e, dessa vez, em humanos. Dois estudos de pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, mostraram recentemente que diferenças no hipotálamo estão associadas a uma de nossas características individuais mais fundamentais: a sexualidade.
Para desespero daqueles que acham que podem “consertar” as preferências sexuais dos outros (e geralmente para consolo das partes mais interessadas), toda a neurociência aponta para uma determinação biológica (genética e hormonal) da preferência sexual, e precoce, ainda no útero. Que padres e políticos esperneiem à vontade, mas não há qualquer evidência de que o ambiente social influencie a preferência sexual humana – biologicamente falando. Cerca de 10% dos homens e das mulheres procuram, preferencialmente, parceiros do mesmo sexo, e o número não muda entre pessoas criadas por pai e mãe, pai e pai, mãe e mãe, com ou sem religião, na área urbana ou rural... Não se trata, portanto, de “opção” sexual, tanto que tentativas sociais de convencer humanos ou outro animais a mudar de identidade (ou “condição”) sexual nunca deram muito certo. Seja você heterossexual ou homossexual, imagine-se sendo obrigado a adotar a preferência sexual oposta. Não gostou do resultado? Pois é.
Ao que parece, a identidade sexual – e é a nomenclatura que me sinto mais seguro em utilizar – está associada à maneira como o hipotálamo responde a feromônios, segundo os estudos suecos. Feromônios são substâncias produzidas por indivíduos da mesma espécie e causam nestes alterações fisiológicas e comportamentais, sempre de cunho social. Numa definição ainda mais ampla e curiosa, estas substâncias  são usadas pelas mais variadas espécies, das leveduras que fermentam a cerveja aos javalis, passando pelo ser humano para unir gametas – promovendo o encontro dos seres que os transportam. O esquema é engenhoso: cada invidíduo produziria o feromônio característico da sua espécie, na versão “homem” ou “mulher”, dependendo do tipo de gameta produzido, e esse feromônio surtiria um efeito avassalador sobre o cérebro dos indivíduos do sexo oposto. Portadores de gametas de um e outro tipo então se aproximariam, passando pela versão de paixonite aguda possível àquela espécie e acabariam por, digamos colocar seus gametas em contato. Se tudo funciona, o casal é premiado com um rebento, que por sua vez produzirá feromônios e será atraído por outros, de acordo com seu sexo – e é aí que o esquema se autopropaga.
Todos os feromônios são pouco voláteis: é preciso chegar perto do indivíduo que o produz; feito isso, eles entram pelo nariz - onde são detectados pelo órgão vomeronasal (e não pelo epitélio olfativo, razão pela qual não existe um cheiro detectável), e esse órgão encaminha a informação ao cérebro direção hipotálamo. O comportamento que se segue parece depender radicalmente de como essa zona se ativa em resposta. Nos homens heterossexuais, mas não nas mulheres heterossexuais, o hipotálamo responde fortemente ao feromônio feminino (EST). Ao contrário, nessas mulheres, e não nesses homens, o cérebro responde ao feromônio masculino (AND). Com tudo o que se conhece sobre a região envolvida, deve se seguir uma cascata de eventos em outras regiões cerebrais (como a amígdala, córtex cerebral e sistema de recompensa, que provocam excitação sexual e fazem com que se busque o dono ou dona do feromônio que ativou o sistema) e, assim, eles preferirão se aproximar delas, e elas, deles. E em imaginar que tudo isso começou no nariz...
Segundo, ainda, os estudos suecos, no entanto, nem todo hipotálamo masculino responde a feromônios femininos e vice-versa. O padrão de resposta do hipotálamo concorda não com o sexo de cada pessoa, e sim com sua identidade sexual ou, provavelmente o contrário: a identidade sexual de cada um depende do padrão orgânico de resposta de seu hipotálamo. Homens e mulheres, cujo hipotálamo responde ao EST, feromônio feminino, e não ao AND, gostam de mulheres; se o hipotálamo responde ao AND e não ao EST, gostam de homens.
Claro, existe a possibilidade teórica de a preferência do hipotálamo ter mudado por causa do comportamento homossexual dos voluntários, ao invés de tê-lo causado. No entanto, com tudo o que se conhece sobre a dificuldade de “converter” a hetero ou homossexualidade e comprovável indiferença das influências sociais isso é muito pouco provável.
O que cada um faz com sua identidade sexual já é outra estória, esta sim é uma opção (preferência ou seja lá como você prefira classificar) que lamentavelmente deve levar em conta todas as dificuldades psicológicas que a discriminação traz. Mas, até onde se sabe, para a neurociência a identidade sexual é biológica e não psicológica. Revelada quando o cérebro adolescente, sensibilizado pelos hormônios sexuais produzidos sob seu controle, expressa o caminho que tomou ainda na gestação - sem qualquer interferência social. Identidade sexual não se escolhe: descobre-se. Tentar mudá-la é como insistir que uma pessoa troque de cor de pele, se torne mais baixa ou tenha um olho de cada cor. É inevitável. É inútil. É injusto.


Referencial Bibliográfico:
HERCULANO, Suzana. Pílulas de Neurociência. Ed. Sextante. 2009.
LANGSTROM, Niklas. Genetic and Environmental Effects on Same-sex Sexual Behaviour. Karolinska Intitutet. 2008.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sobre o aborto e outros preconceitos


No Brasil, a maioria do povo é contra o aborto, contra o casamento entre homossexuais, contra o desarmamento, contra leis que asseguram o estado laico, contra a descriminalização da maconha, etc. Isso é decorrente, entre outros fatores, de uma influência religiosa ainda muito marcante em nossa sociedade – o que tem travado a aprovação de propostas que fariam o país avançar para um ambiente mais civilizado – e também pela força das dezenas de partidos conservadores presentes nessa incessante disputa política que toma conta da nossa pátria amada.
Quando falamos em respeitar os direitos humanos, os direitistas falam que estamos ao lado dos bandidos; quando defendemos cotas para negros e pobres, eles dizem que estamos premiando a ignorância; quando dizemos que o corpo da mulher pertence a ela e ela deve decidir sobre ele, os reacionários dizem que o corpo pertence a Deus e que as regras do tal Deus é que devem prevalecer e nos acusam ainda de estarmos propondo o assassinato de crianças indefesas; quando se pretende punir os pais que surram os filhos, eles vem com o argumento de intromissão do governo em assuntos domésticos; quando propomos a união entre homossexuais e o combate contra a homofobia eles dizem que estamos fazendo campanha para o povo fazer "opção" pela homossexualidade; quando defendemos o desarmamento, eles afirmam que queremos desarmar o povo e deixar os bandidos bem armados; quando combatemos o racismo, eles dizem que estamos pregando o ódio entre as "raças-irmãs"; se somos contra o ensino de religião nas escolas, falam que somos ateus materialistas e que queremos proibir a bíblia. Quando defendemos programas sociais para o povo pobre, eles falam em assistencialismo e estímulo à preguiça, quando defendemos pesquisas com células-tronco para a cura de doenças, eles falam que estamos ameaçando as leis divinas; quando bradamos contra o machismo eles dizem que essa é a tradição brasileira e que esta não deve ser tocada; quando queremos investigar os crimes da ditadura, eles nos acusam de revanchistas. 
Como se vê, os preconceituosos e os obscurantistas dos vários tipos têm argumento contra tudo que signifique um mundo mais arejado, mais tolerante, mais civilizado. O pior de tudo é que, vez por outras, surgem pessoas tidas como de “esquerda”, que (em tese) deveriam estar ao lado de causas libertárias.
O objetivo desse texto não é entrar no mérito da polêmica, já bastante explorada por tantos que se manifestam na mídia sensacionalista. O que trago aqui é um pedido para que deixemos as críticas levianas e hipócritas de lado e abramos espaço para discussões táteis e racionais à priori de um direito intrínseco do ser humano e que espírito, partido ou legislação alguma jamais poderá contestar: a dignidade. Porquê é disso que nossas Severinas precisam.

"Não é verdade que alguns sejam a favor e outros contrários a ele [aborto]. Todos são contra esse tipo de solução, principalmente os milhões de mulheres que se submetem a ela anualmente por não enxergarem alternativa. É lógico que o ideal seria instruí-las para jamais engravidarem sem desejá-lo, mas a natureza humana é mais complexa: até médicas ginecologistas ficam grávidas sem querer." (Drauzio Varella)

domingo, 2 de outubro de 2011

Contra Dores

Quero os pés sujos de lama. Quero mais finais de semana. 
Quero deixar a vida, deitar na cama, rolar na grama.    
Quero flores coloridas. Quero becos sem saídas.
Quero ter certeza algum dia. Quero mais respostas positivas.
Quero ter pureza no argumento. Quero mais natureza e menos cimento.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Uma questão de pele


Me lembro de, numa outra postagem, ter falado um pouco sobre fenótipo, material genético, evolução e Lamarck. A diversidade humana é, há tempos, discutida por filósofos da humanidade. Entretanto, todas as discussões que existiram sobre “raças” humanas envolvem apenas o nível fenotípico (de aparências).
A variabilidade fenotípica é vista em várias etnias diferentes, assim como há variabilidade populacional em outras espécies por compartilharem ambientes diferentes e por um relativo isolamento reprodutivo geográfico, que faz com que cada população tenha sua própria característica. No entanto, quando analisamos as populações humanas a nível genômico, a diferenciação não é tão simples assim. A variabilidade genética da nossa espécie é muito baixa. As características físicas desses grupos representam adaptações ao meio ambiente, sendo então produtos de uma seleção natural que age sobre alguns (poucos) genes. Variações fenotípicas visíveis, tais como cor da pele, cor dos olhos, forma do nariz, etc, são regidas por pouquíssimos genes quando comparadas com variações moleculares de “maior” importância. 
A anemia facilforme, por exemplo, era vista como uma doença típica de africanos ou afro-descendentes. Um estudo de padrões geográficos de ancestralidade genômica, realizado pela UFMG, constatou que 15% dos casos no Estado de Minas Gerais é formado por indivíduos com 85% de ancestralidade européia.
Quando queremos distinguir um europeu de um africano, por exemplo, podemos conseguir com êxito quando estamos analisando os dois indivíduos fenotipicamente (ou seja, levando em consideração suas características esteriotípicas). Apesar disso, quando analisamos apenas o nível genômico (como o exame de um DNA forense, por exemplo), a facilidade de identificação desaparece completamente. O ponto crucial para abolirmos completamente o termo “raças” quando nos referimos à nossa espécie é a avaliação das diferenças individuais. Vários estudos constataram porcentagens de polimorfismos individuais e entre “raças” de seres humanos e os resultados sempre foram próximos a 85% de diversidade entre indivíduos de mesma população8,3% de diversidade entre populações diferentes 6,3% entre “raças” distintas.
Portanto, como podemos definir “raças” se a variação genética é de apenas 6,3%? Compare com a variação individual de 85% e podemos compreender o motivo e tamanho do erro cometido.
No Brasil, a situação é ainda um pouco mais complicada. Todos os estudos de miscigenação já realizados confirmam que a população, independente da região onde se encontra, possui ancestralidade africana, européia e ameríndia, diferindo apenas na porcentagem entre elas. A variabilidade genética da população brasileira é gigantesca! Todos nós somos afro-descendentes, euro-descendentes e ameríndio-descendentes.
Do ponto de vista médico e genético, então, raças humanas são indiscutivelmente inexistentes. Para os estudiosos da genética, as diferenças da cor da pele nas "raças" humanas são insignificantes. Mas é estarrecedor vermos sua capacidade de produzir, como nas políticas do apartheid, algumas das páginas mais cruéis da história da humanidade. Talvez o termo tenha um significado cultural e político, mas também acaba nos coordenando e condicionando à alguns preconceitos, o que não é bem visto por grande parte da população.
No ano passado tivemos nossas casas visitadas por pesquisadores do IBGE para realizarem o censo de 2010. Uma das perguntas que eles fizeram e que várias pessoas não souberam responder foi “como você define sua cor?”. Se nós, nessa esquizofrênica mania de querer limitar nosso espaço geográfico e humano a blocos cada vez mais específicos, quisermos dividir a espécie humana em raças, o mínimo que podemos dividir é em 6,5 bilhões de indivíduos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Sabe o que eu acho?

Hoje decidi me expressar de uma forma diferente: vou escrever sobre o tudo (e o nada) que acho (ou acho que acho) de forma aleatória, liberando a autonomia dos meus cem bilhões de neurônios e suas trezentas trilhões de sinapses adjacentes. Sabe o que eu acho? Eu acho que as pessoas só dão valor aos seus pais quando não os têm mais por perto de maneira crônica. Eu acho que as pessoas não deveriam sentir-se na obrigação de ver umas as outras de forma sistêmica. Eu acho que ninguém deveria impôr seus ideais religiosos a ninguém, muito menos julgar suas diferenças. Eu acho que existem vários outros órgãos mais importantes que o coração no organismo humano. Eu acho que a gente é um bando de idiotas vivendo em prol de trabalho e acúmulo de capital. Eu acho a característica fenotípica “cabelos escuros, olhos claros” a mais bela do homo sapiens. Eu acho que, se eu pudesse, jogaria meu telefone celular pela janela no fim do dia. Eu acho que tenho me preocupado demais com as outras pessoas e de menos comigo mesmo. Eu acho que aqueles que vivem perto da praia têm sorte. Eu acho que ter dentes feios e não falar corretamente são, definitivamente, inibidores de apetite. Eu acho que preciso conquistar pessoas novas e cultivar as velhas e boas. Eu acho um saco pessoas que ficam mexendo no celular numa roda de amigos. Eu acho que preciso repensar sobre algumas falsas convicções. Eu acho que preciso rever alguns conceitos. Eu acho que a noite é muito mais interessante que o dia. Eu acho que preciso me dedicar mais. Eu acho que preciso relaxar mais. Eu acho que estou perdido dentro de mim. Eu acho que deveria administrar melhor meu tempo. Eu acho que é muito fácil criticar a violência no país dirigindo um carro blindado e morando num condomínio fechado. Eu acho que deveria excluir alguns contatos sociais. Eu acho o amor de uma maneria diferente de antes. Eu acho que eu deveria ser mais compreensivo. Eu acho o máximo entender o que acontece dentro de mim. Eu acho errônea e apenas políticamente útil essa subdivisão e exclusão geográfica cada vez mais gradativa a que nos submetemos (universo, planeta, continente, país, Estado, cidade, região, bairro, rua, casa, quarto...). Eu acho que eu tenho perdoado demais. Eu acho que preciso deixar de ser ocioso. Eu acho que deveria reclamar um pouco menos. Eu acho que expressão em excesso é maléfico. Eu acho que deveria ler sobre outros assuntos senão o mesmo. Eu acho que a faculdade de  Medicina nos atribui muitas tarefas e pouco tempo para cumpri-las. Eu acho que gente desinteressada não me interessa. Eu acho que a minha mãe deveria morar comigo. Eu acho que sou um egoísta quando acho isso. Eu acho que reservar mais tempo pra mim comigo mesmo se faz necessário. Eu acho que sentir saudade é bom. Eu acho que não ter tempo útil para sentir saudade é péssimo. Eu acho que o Mato Grosso do Sul deveria ter um nome mais original. Eu acho gente invasiva muito chato. Eu acho a natureza e o corpo humano simplesmente incríveis. Eu acho que o amor não deve ser tido como um sentimento avassalador. Eu acho que religião, drogas e política devem sim ser debatidos. Eu acho que ninguém tem o direito ou sequer necessidade de opinar sobre o gênero com o qual você transa. Eu acho que meu tempo livre é MEU tempo livre e eu faço o que quiser com ele. Eu acho que a televisão vai acabar com o intelecto da humanidade. Eu acho que Deus é uma criação ideal do homem, mas adoro os feriados santos. Eu acho que os motoristas campograndenses deveriam ser mais solidários. Eu acho que deveríamos dar mais valor ao sol. Eu acho que todos poderiam tirar seus restos de comida da mesa nos restaurantes públicos. Eu acho que o processo seletivo para a graduação neste país é desleal. Eu acho que todo mundo deveria conhecer as comunidades carentes e o sistema público de saúde da sua cidade. Eu acho que perco tempo demais me distraindo enquanto estudo. Eu acho que tudo é conectado. Eu acho que tudo acontece à priori de um aprendizado. Eu acho que as pessoas deveriam olhar menos na etiqueta e mais nos olhos. Eu acho que o importante é ser feliz.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Lamarck me entenderia...

Mesmo após três anos vivendo longe da barra da saia da minha mãe, sinto como se faltasse alguma coisa, algo que não está aqui - que ficou uns 230 km distante de mim e que, por vezes, parece estar muito mais longe que isso. Sempre custei a crer na teoria evolucionista do Lamarck, aquela do isolamento reprodutivo. Mas hoje, fazendo uma análise comportamental comparativa entre os Douradenses e Campograndenses com uma base de dados de 2008 - 2011, vejo que o cientista tinha lá seus motivos. Como as pessoas, a cultura, a educação, o jeito de viver, a solidariedade e até os olhares são diferentes... É como se, realmente, as populações, outrora, houvessem evitado/bloqueado/negado uma comunicação e troca de informações - impossibilitando a reprodução de posteriores genes semelhantes. Isso me faz sentir um "Alien", como diriam nossos vizinhos norte-americanos. Segundo o dicionário:

1. (a.) Wholly different in nature; foreign; adverse; inconsistent (with); incongruous; followed by from or sometimes by to; as, principles alien from our religion.
2. (n.) One excluded from certain privileges; one alienated or estranged; as, aliens from God's mercies.
3. (a.) Not belonging to the same country, land, or government, or to the citizens or subjects thereof; foreign; as, alien subjects, enemies, property, shores.
4. (n.) A foreigner; one owing allegiance, or belonging, to another country; a foreign-born resident of a country in which he does not possess the privileges of a citizen. Hence, a stranger. See Alienage.
5. (v. t.) To alienate; to estrange; to transfer, as property or ownership. 

Isso tudo só pra registrar aqui meu sentimento saudoso, nostálgico e, por ora, triste de vontade de estar na minha e com os meus. Saudade de acordar de manhã, no meu quarto azul, com a risada (sempre alta e envolvente) da minha mãe; de descer as escadas e encontrar aquela mesa cheia de frutas e pães apaixonadamente posta; do abraço e do beijo do meu pai na hora do almoço; dos tererés com o Felipe e com a Léli combinados nas horas mais bizarras (à meia-noite, de manhãzinha, no horário de aula...); de pedir ajuda pra minha irmã naquelas horas em que necessitamos de qualquer mão-amiga (menos a dos nossos pais); de usar mil e um copos por dia só pra tomar água; de deixar os tênis jogados na sala-de-estar e quando voltar lá, minutos depois, ele estar limpo no seu armário... Mas, mais que tudo isso, fica a eterna saudade de um sentimento que talvez nunca mais eu venha a sentir: o de pertencer a um devido lugar e pessoas; de saber que tudo não depende apenas e unicamente de você; que se você tropeçar, cair e falhar, basta erguer a cabeça e segurar aquela mão que está ali, só pra te impulsionar a continuar e fazer sorrir.

Você na 1ª pessoa (do plural)

Você atravessa fora da faixa de pedestres mas acelera no sinal amarelo. Você reclama do excesso de embalagens do Mc Donald's mas não prepara seu lixo doméstico pra coleta seletiva. Você critíca quem fuma em público mas vende suas roupas usadas por R$ 1,99 ao invés de doá-las. Você fala pro seu avô não comer gordura no churrasco em família mas frequenta festa open-bar com a galera da faculdade. Você odeia essa sociedade capitalista mas se recusa a adquirir uma ecobag. Você não come carne vermelha mas tem uma bolsa de couro da Louis Vuitton. Você não dá esmolas por achar errado, então ergue os vidros do carro e liga o ar-condicionado. Você diz que odeia cantor nacional que compõe em inglês mas sabe cantar Mallu Magalhães como ninguém. Você acha um absurdo as taxas ascendentes de viciados em drogas mas nunca saiu da zona sul. Você vai à academia todos os dias mas nunca cumprimentou a moça da recepção. Você assina um questionário e logo assinala a primeira opção.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Autobiografia de outrem

Ao longo de 20 anos, venho escrevendo um livro sobre a história de um eu que não tem meu nome. Uma autobiografia não sendo de mim. Difícil mesmo é dividir a vida em capítulos. A cada frase, uma escolha. Sentimentos e letras combinam-se e criam um número de parágrafos, frases de efeito, ações do personagem principal, algumas participações especiais, um vilão aqui, uma bruxa má ali e, no final, esperamos que tudo aquilo faça sentido. Sentido para quem?

domingo, 28 de agosto de 2011

Eu poderia falar de amor

Eu poderia falar de amor ou do sonho dessa noite, que eu tinha adotado uma menina e precisava escolher o nome. Poderia reclamar da chuva que não vem ou do calor e do frio que lutam pelo primeiro lugar na fila. Falar do nada, da dificuldade de falar sobre o nada, encher muitas linhas sobre o nada, o vazio, o branco, o silêncio, o teclado do computador. 

Eu poderia falar sobre vírgulas e seu namoro com as letras. Namoro de amor e ódio, cheio de rancor, selvageria e tesão. Sempre achei que as vírgulas eram meio tias velhas solteironas, mas descobri que são amantes das melhores, as prediletas, inesquecíveis e suspiráveis amantes de todo mundo, que sofrem por não serem um belo, gordo e importante ponto final.

Eu poderia falar de ingratidão, grosseria, idiotas no trânsito, injustiça social. Poderia falar sobre simpatia, pessoas iluminadas que não precisam fazer o menor esforço para serem de outro mundo - bastam existir que enchem salas e corredores de cores, cheiros e sabores. Eu poderia reclamar, elogiar, brindar, aguentar - e como tenho aguentado! Falar de internet e a imensa oportunidade que as pessoas perdem de ficar caladas ao invés de falar, falar e falar. Poderia fazer tudo que desejasse, porque sou livre e dono de meu arbítrio. Dar um pulinho no inferno, pecar, subir aos céus, rezar, pedir perdão e descansar.

Eu poderia falar sobre sorrir, comprar pães, limpar o fogão, atender ao telefone, a problemática de dar água com açúcar para beija-flor. Poderia tirar mil trezentas e noventa e oito máscaras que carrego grudadas em cada pedaço do corpo. Poderia contar meus dentes, meus dedos, meus medos. Poderia tirar a roupa. Poderia lavar a louça. Quem sabe os dois ao mesmo tempo?

Eu poderia falar de música sertaneja, ter um chapéu na cabeça e um caminhão na garagem de casa. Poderia ser músico de porta de botequim e receber quinhentos reais por mês - ou tomar tudo em cerveja. Poderia ser um bebê chamado Luiz Felipe ou o filho mais novo do Carl Sagan, como já sonhei acordado após ler um de seus livros em menos de 24 horas com uma xícara de café frio na mão.

Eu poderia falar de sonhos e do porquê eles acontecem, mas eles são tão difíceis de explicar...

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Pra'queles que não sabem sambar

Meu caro, a culpa é toda sua. Se você não queria uma pessoa que sambasse, jamais deveria tê-la chamado para dançar. Veja o meu caso: nós dois sambamos, nós dois bebemos, nós dois cantamos, nós dois sentamos, nós dois rimos e nós dois também vamos embora juntos - porque é  isso (e muitas outras boas coisas) que o amor faz.
Mas você, meu caro, esqueça essa coisa de poder. Isso não existe no seu mundo. Não enquanto você continuar sendo quem você tem sido. Você só terá alguém do seu lado - desse jeito que tanto almeja - se souber entrar na dança, seja ela qual for. Se sambar também, sem esperar nada em troca. Se você sambar, ela vai sentir prazer em dançar a valsa que você tanto gosta e ela detesta. É simples assim. Mas sei quão difícil é, pra você, essa coisa toda de proporcionar prazer, ceder, ouvir o CD inteiro sem pular as faixas, rir de uma piada que não seja de sua autoria.
Com o tempo, você vai notar que  o samba se tornará tão prazeroso quanto a valsa. E, aos poucos, você vai notar que nenhum dos dois vai ter poder, que não haverá brigas sobre quem pode menos ou mais. Meu caro, você vai ver que amar é tão simples quanto sambar. Basta ter malemolência e se entregar.

sábado, 23 de julho de 2011

Come as you are


Sinto que, a medida de cada toque, gesto ou olhar, o quê há dentro de mim cresce e toma proporções não-tangíveis - como a alma ou quaisquer outras dessas coisas que a gente insiste em afirmar que possui e nem sequer sabe do quê se trata. Mente, espírito, amor, consciência, Deus...
Como se mede a paixão? Por que associá-la ao coração?
Ter consciência é agir com ciência? Mas não dizem que a ciência muda com frequência?
Já que não existe uma forma de medir o quê eu sinto; já que o quê eu sinto é associado a um órgão muscular oco que trabalha de forma simples e meramente sistêmica; já que eu não sei se há consciência na ciência desse sentimento progressivo que guardo em algum lugar que não sei onde mas dentro de mim, quero aproveitá-lo ao todo, com a inocência e ignorância de não se ter noção do quê realmente ele é.

domingo, 26 de junho de 2011

Eu escrevendo sobre tudo, passando pelo absurdo de não cumprir os meus planos.
Eu que não queria ser mudo, às vezes finjo ser surdo pra não cometer mais enganos.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Nota de rodapé

Para todos os relacionamentos, uma dica: vive-se de paixão. Dizem que rápido demais é tão ruim quanto lento demais. Boto os pés pelas mãos e discordo em gênero, número e grau. O amor é cruel, cotidiano, dia-a-dia (com hífen), cheio de defeitos e qualidades. A paixão é instantânea, vem crescendo e é certo que irá acabar, mas enquanto é, é. Nada de dúvidas - ou milhares delas que não precisam ser esclarecidas. O amor não cora de timidez, fica vermelho de vergonha. Posso te amar, mas não estou mais apaixonado por você.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Na linha do horizonte

Vamos fazer assim: Você vai embora daqui que eu vou embora dali. Se aproxima de si que eu me aproximo de mim. Você prossegue consigo que eu comigo prossigo. Você consegue, eu consigo. Você periga, eu perigo. Na linha do horizonte, a gente pode se cruzar, ali onde o poente encontra com a beira do mar.

domingo, 29 de maio de 2011

Dessa vez, as palavras não são minhas - mas de alguém que faz parte de mim. Abro espaço para uma menina/mulher com jeitinho de peixe e gosto de cereja que, sincronizadamente aos batimentos do coração, ritmou lindas palavras em minha homenagem.

@você
Pensei em músicas pra te cantar.
Poemas pra te dizer. Idiomas pra te traduzir.
Sinônimos pra te descrever.
Frases feitas pra te impressionar.
Potinho pra te prender e te ter sempre por perto!

Muito romântico. Muito meloso.
Muito lunático. Descabível, oras!

Um sorriso imenso que revela um coração leonino,
generoso e, vezenquando, impiedoso!
Generoso com quem te quer bem.
Impiedoso com quem magoa seus carinhos.
De longe, o mais sincero.
De cara, o mais cético.
De repente, o indispensável!

Invariavelmente, o vício. Desde outras gerações, aposto.
Aquele olhar de policiar e ler um ao outro.
Na nossa onda, a sintonia é uma só.
Única pra mim e pra você.
Pessoal e intransferível!

Assim como o amor. Aquela mudinha que você plantou e floresceu.
E desabrochou. E cresce, dia após dia.

(Pra você que me completa e contempla com alegria e amizade... @lekssoares)


Por Gabriela Natsu
 www.palavrasritmadas.blogspot.com

terça-feira, 17 de maio de 2011

Assim sem disfarçar

Acidentalmente de propósito, deixei meu olhar descansar, joguei meu despertador dentro da lareira, peguei o controle remoto e sintonizei nas notícias e no canal sobre o tempo – alguma forma de saber mais sobre você. Estou tentando sintonizar você.
Inocentemente culpado, apaguei todas as luzes, tranquei a porta da frente e atrasei o seu relógio, tentando pausar o mundo e ouvir o seu coração para me guiar até você. Estou me guiando a você.
Sinceramente disfarçado, te mandei mensagens reclamando das horas, inventei fome para te chamar para jantar e expus meus sentimentos mais íntimos pra, depois, ouvir você. Estou afim de ouvir você.
Carinhosamente inibido, falei meias palavras, medi a sensibilidade do toque e controlei a força do abraço. Só não consegui diminuir o brilho nos olhos quando eles enxergam você. Eles estão, de forma sintonizada, afim de você. 

domingo, 15 de maio de 2011

Nada além do que eu sou

Destilar meu ódio ou só falar de amor? Sabe-se lá a diferença entre os olhos que enxergam e os que não querem enxergar. A subida é longa e o chão é de pedras. Dificuldade em domar minhas próprias pernas. O mundo se move, mas nem sempre a seu favor. Você precisa ter coragem pra provar o seu valor. Ao contrário da vontade esquecida por nós dois, o tempo não muda - não deixa nada pra depois. A gente tem que provar todo dia quem a gente é. Dolarizando a bandeira. Submetendo a questão. A marcha da falência dos valores da nação. Quando o salvador é o próprio vilão, ele salva o velho mundo com uma bala de canhão. Se adequar a certos moldes para moldar uma adequação. É preciso tudo isso pra uma falsa educação? Sem tempo pra ser nada além do que eu sou. Vou quebrando o quê não presta e juntando o quê restou.

domingo, 1 de maio de 2011

Mensagem ao sol



Quando você está aqui, eu me sinto bem. O lugar, as flores e o cheiro bom me fazem suspirar. Se eu volto, é pra me refazer. Alimentar a alma. Me reconhecer. Acabo de compreender seu devido valor, Estrela que, com seu brilho, me situa no mundo. Com você, vejo tudo mudar - dentro e fora de mim. Me saltam ideias ao amanhecer. Abro a janela e te convido a entrar - não pela porta. Esse tipo de entrada é pra outro tipo de Ser. Deixo que me conduza ao longo do dia e que, no seu fim, parta -  até que a saudade que sinto de ti me faça adormecer. Tudo bem. A janela aberta é a certeza de que você voltará para me despertar. Só não sei até quando. A falência do Ser Humano é extremamente compreensível, mas a de vocês, Estrelas, me intriga.


domingo, 24 de abril de 2011

Do amor


O meu amor sai de trem por aí e vai vagando, devagar, para ver quem chegou.
O meu amor corre devagar. Anda no seu tempo - que passa de vez em vento.
Como uma história que inventa o seu fim. Quero inventar um você para mim.
Vai ser melhor quando te conhecer. Olho no olho e flor no jardim. Flor, amor.
Vento devagar. Vem, vai, vem mais...

sábado, 23 de abril de 2011

Antes que os pensamentos se dissipem

Os sábios ficam em silêncio quando os outros falam;
Quando os sábios falam, os outros ficam em silêncio.
Crianças gostam de fazer perguntas sobre tudo;
Adultos evitam fazer perguntas para não ter que respondê-las.
As máquinas de fazer nada não estão quebradas;
Quando as máquinas estão quebradas, não fazemos nada.
As chuvas vêm da água que o sol evapora.
O sol é estrela quente que faz evaporar.
O brilho vem das outras estrelas que não são quentes.
Assim como nos sistemas biológicos, o Universo trabalha em homeostase.
As músicas dos índios fazem cair chuva.
Os dedos dos pés evitam que se caia.
Os rabos dos macacos servem como braços.
Os rabos dos cachorros servem como risos.
As vacas comem duas vezes a mesma comida.
As crianças etiopianas comem comida nenhuma.
Ambos são mamíferos. Uns tomam leite, outros não.
Movemos mais músculos para sorrir do que no halterofilismo.
Vamos mais à academia do que sorrimos.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Lógica sem nexo


E então tudo começa a fazer sentido novamente. O brilho nos olhos, a risada boba, a mão sobre a outra, o beijo no final... Será que é isso mesmo? E, se sim, até quando vai durar? O ser humano tem essa necessidade de tatear a concreticidade do processo. É característico. Quase que instintual.
Dizem que antes de dar respostas, é preciso saber perguntar. É o que mais tenho feito. Será que é melhor contentar-se com um gole pra matar a sede quando se tem a possibilidade de possuir o rio inteiro? Será que é mais fácil continuar a caminhar rumo a um deserto seco e não-consensual, cheio de miragens, quando se sabe que tudo aquilo não faz parte do seu “eu”? E, falando em “você”, e você? É justo deixar de lado quem se realmente é? O belo se faz abstrato dependendo de quem o analisa. 
Interrogações demais pra exclamações de menos.
E o pior é quando tudo isso te leva a um paradoxo sem fim: Bom demais pra te fazer querer sair; perigoso demais pra te fazer querer entrar.
Eu entendo o que se passa no seu coração (apesar de não gostar muito de cardiologia). Não só do seu, mas do meu também. Às vezes, com a correria do dia-a-dia, até me esqueço dele, mas sei que está ali. Aliás, neste momento, ele se encontra num estado, quase que notório, de arritmia – não por batimentos de menos, mas sim por batimentos demais. Como ele bate acelerado quando te tenho por perto... E eu que achava que esse tipo de coisa só acontecia quando éramos adolescentes...
E eu que achava tanta coisa que não acho mais! Realmente, os primeiros meses do ano de 2011 valeram mais que 2010 inteiro. Mas isso não me faz aceitar a idéia de que em 2012 tudo se acabe. Pelo contrário, me faz querer que tudo dure por um período indeterminado. Pensei em usar a expressão “Pra sempre”, que costuma ser mais característica pra esse tipo de frase.  Mas acho que pra sempre, talvez, seja muito tempo. Pode ser que, em algum momento ao longo do caminho, sua sede acabe, o copo se quebre, você queira nadar em outras águas ou até mesmo se perder nas miragens no meio de tanta areia, mas tudo bem desde que, enquanto isso, cada página dessa história termine com um beijo no final. 

terça-feira, 5 de abril de 2011

Sobre a lua


Me lembro de um e-mail que recebi anos atrás que falava da história do Sol e da Lua, fazendo uma analogia com Romeu e Julieta. Diz a história que o Sol e a Lua nasceram juntos e se apaixonaram. Até que um dia, quando notaram a força da paixão entre eles, os separaram – afinal, eles eram tidos como irmãos. Desde então, eles nunca mais se viram. Sendo que um só pode ser liberto durante o dia e outro apenas ao longo da noite.
A mesma lua que, através do brilho das estrelas, ilumina a minha noite é a mesma que ilumina a sua. É estranho pensar que estamos debaixo do mesmo céu, da mesma lua, recebendo o mesmo brilho e, ao mesmo tempo, tão distantes. Não só quantitativa, mas qualitativamente – e, na verdade, é isso que nos separa (as qualidades que prezamos) e não o que achávamos no início.
A lua, o sol, as plantas no jardim... Tudo continua no seu devido lugar. O que era essencial é que não está mais ali. (Ou o que achávamos que era...). Porque, se realmente fosse, ainda estaria lá. Como a lua que, apesar de todo o sofrimento, nunca deixou de brilhar.

domingo, 3 de abril de 2011

Que dá vontade, dá!


Tem dias que tudo parece dar errado, né? A gente briga com o melhor amigo, diz coisas que preferia não ter dito, perde a carteira com todos os documentos dentro, se sente sozinho, se auto-decepciona, chega atrasado e descabelado numa aula importante, bate o carro... E a vontade é de apertar rewind. Aquele botãozinho no aparelho de DVD que volta até a cena posterior que queremos chegar pra poder fazer tudo diferente. Mas não dá! Talvez se pudéssemos, a vida não teria o valor que tem. As lições não seriam aprendidas como um todo. Mas que dá vontade de voltar e refazer tudo, dá. Dizer aquele “eu te amo” que deixamos de dizer - por mâgoa ou raiva; dar um abraço apertado que ficamos com vergonha de dar; reformular as palavras mal-ditas que saíram da boca naquele momento de sentimentos confusos; poder utilizar desse artifício de "ver o pra frente" e "voltar no pra trás" pra não ter se deixado ser tão usado... Sei que a gente não pode e que esse texto acabará sendo um amontoado de "e se...". Mas que dá vontade, dá! 

quinta-feira, 24 de março de 2011

Quero e não quero

É preciso muita calma. É preciso muito amor.
É preciso muita cama, sem hora marcada, ao acaso, sem caô.
Chega da ansiedade dos relógios. Eu quero toda volúpia de quem não espera, de quem se surpreende e entra no jogo, mas consegue sair dele no café da manhã. 

Jogos novos com os mesmos jogadores. Não quero sentar na mesa e ficar nela até sair com tudo ou nada. 
Quero deixar pra amanhã, mesmo que ele nunca chegue. E vou chegando, devagarinho, sem me entregar por inteiro. Aceito uma casa com chão, mas recuso o teto; de espelho e não de vidro - onde a gente entrega o RG na entrada mas só se identifica dentro do quarto.

sábado, 5 de março de 2011

Untitled

Às vezes, mesmo que só às vezes, pareço entender o porquê desse meu ceticismo. É muito menos árduo - e mais cômodo - crer na explicação biológica das coisas do que olhar, simultâneamente, sob vários ângulos. Não é muito mais fácil acreditar que amamos devido à produção hormonal de ocitocina no hipotálamo, região central do nosso cérebro, do que ficar buscando explicações sentimentais hipotéticas? Olhando por esse lado, conseguimos acreditar que amar novamente (e de novo, e de novo...) assim, dessa forma mecanizada, é muito mais fácil do que se prender a um sentimento que parece não sair de você e que, provavelmente, nunca foi válido - te fazendo sentir um tremendo idiota.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

(...)

Quando as palavras lhe faltam, a melhor coisa a fazer é calar a boca. Quanto mais você tem a dizer, menos palavras ocorrem. Quanto menos você fala, mais você pensa. Quanto mais você pensa, mais coisas você tem a dizer. É um paradoxo perfeito para levar você contra você mesmo. Aquele tipo de sabotagem que fazemos a nós mesmos quando temos alguma oportunidade.
Como se nada fosse bom. Na falta de bom, a ausência de tudo é melhor que a presença de algo ruim, é assim que se desce. Já que sempre pensamos na consequência, é sempre bom lembrar que no final, tudo que você faz, é tudo o que você fez. Tudo que você diz, é tudo que você disse.
Mas quando as palavras lhe faltam, o melhor é calar a boca e fazer alguma coisa para mudar a sua vida ao invés de ficar planejando em como culpar os "outros" pelo que não fomos capazes de fazer.