quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

(Re)partida


Depois que o espelho está quebrado, existe como saber a que altura esteve o primeiro fragmento? E como ter noção de nossa dimensão quando (tudo) isso acontece? Para dar um salto avante, foi necessário reunir um tanto de todos que já fui. Momentos distintos de vida. Recontar para mim mesmo minha história pessoal - essa que construímos dia a dia, reunindo, descartando, esquecendo, recriando e, até mesmo, inventando. Não existe nenhum mapa.  Existe algum mapa? Poético, cético, literário, místico, emocional, racional... Qual o ponto de partida? Toda vez que dou um novo passo me pego pensando que precisaria voltar atrás e reaprender à andar. Enfim, de volta ao mapa - caminhando mais próximo sem pensar em voltar - às vezes a poesia (da vida), essa dama ciumenta e exigente, se afasta silenciosamente de mim, deixando em seu lugar o vazio da falta de convicção para escrever da única forma que eu sempre soube (ou acreditava que soubesse).  A gente também desaprende o aprendizado. Porquê nem sempre o aprendido é apreendido. Entre reaprendizados sobrepostos e sobreposições mal-posicionadas vou, aos poucos, reunindo os cacos e colando o espelho que devolve os fragmentos (sobre)viventes a meus tantos esquecimentos. A única certeza é de que os pedaços ainda podem ser colados, recolados, anexados com goma de mascar... E, ainda assim, cair. No final, a única certeza é de que não há certeza em lugar algum.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Qualquer coisa que não se sinta


Hoje pude analisar o que configura o estado de sentir  o que é não sentir. Sentir NADA. Nem sozinha, nem mesmo triste. Nada. Vazio não é bem a palavra como dizem todos os clichês, nada é nada. Nada, no dicionário do velho Aurélio: s.m. A não-existência, o que não existe; ou seja significa coisa nenhuma, e isso no português de Portugal e no português do Brasil. Nada é não ser. Não ser, não ter, não existir. Nada, é um puro e simples nada. A vivência é pouca para se definir o nada, mas quando você o sente, não tem jeito, você sabe o que o nada é. Isso leva o leitor de linhas como essas a pensar que sou triste, que realmente a infelicidade é o que eu sinto, mas colega, eu juro, nada significa mesmo nada. É obvio que isso vem de longa data, para se chegar ao “nirvana” do nada é preciso ter absorvido muita alegria e muita dor, tanto que eles chegaram a um ponto de se balancear, equilibrar, gerando esse estado de imparcialidade com os seus pensamentos. Ter se envolvido demais, ou de menos, já não importa. O que importa agora é que o que era antes passou a ser coisa nenhuma.  Mas ao contrário do que diziam por aí, não peço socorro (isso é coisa que se peça?). Estou livre. Livre de dor, livre de paixão, livre de alegrias com as pequenas coisas. Estou, finalmente, livre.  Acho que tive compaixão de mim, se é que isso é permitido. Não foi amor próprio não, eu sei que não. Minha mente fez o trabalho de ser piedosa e me deixar em paz, me deixar descansar dos sentimentos por alguns intensos minutos.  Se esses são os sintomas da psicopatia então definitivamente quero saber mais sobre essa doença. Sabe o que é pior? Esse sentimento passa, bem vagarosamente rápido. Fechei meus olhos e lá estava tudo de novo, no mesmo lugar, com os mesmos fortes impulsos nervosos correndo à jato por inúmeras sinapses que me deixaram acordada durante toda a luz da lua. Voltei a me contorcer de dor, voltei a regozijar-me com  momentos do passado,  voltei a sentir TUDO o que podia e devia ao mesmo instante. É, decididamente prefiro o nada a dor, nada a extrema satisfação. Gostaria que todos soubessem a plenitude do nada. Ele não acalma, mas também não agita; não faz sonhar, mas também não te causará pesadelos; não te fara amar, mas também não te deixará na mão. É seguro. O nada é o nada, e nada mais.