terça-feira, 8 de novembro de 2011

Gardenal não cura preconceito


Hoje me deparei com um comentário absolutamente infeliz em um blog que sigo. Não apenas porque ofendia gratuitamente a autora em seu blog pessoal (o que, para mim, é o mesmo que bater na porta de alguém, entrar em sua casa e começar a criticar veementemente a disposição dos móveis na sala), mas também porque a "xingava" de louca e, com muita pompa e autoridade, sugeria que a mesma tomasse um "gardenal". Foi impossível conter o mal-estar que a vergonha alheia me proporcionou.
É impressionante ver como as pessoas repetem as coisas sem gastar um segundo de reflexão para avaliar se o eco do que estão fazendo tem o mínimo de sentido. Não vou nem entrar no mérito do quanto é insano (rá!) rotular alguém como louco ou normal. Afinal, o que é o normal? O que é "loucura"? Quem define? E aquele que se acha capaz de definir é normal o suficiente para isso? Deixando a metalinguagem de lado, na minha opinião, o "normal" inexiste. Há apenas o comum e o incomum, baseado em estatísticas e comparações - para todo e qualquer tipo de comportamento.
Ninguém é obrigado a estudar farmacologia antes de abrir a boca, eu sei. Só que, hoje em dia, o google está literalmente na palma da mão. Não levaria nem dez segundos para descobrir que o Gardenal (nome comercial do fenobarbital) não é uma poção mágica que torna as pessoas "normais" e aceitáveis aos olhos da sociedade. É apenas um medicamento antigo usado para tratar e prevenir convulsões ou "ataques epilépticos", como as pessoas adoram falar.
Se considerarmos que desde a Mesopotâmia e até a Idade Média (muito antes da invenção do Gardenal), as convulsões eram atribuídas à possessão por deuses demoníacos e as pessoas que convulsionavam estariam fora de si mesmas, sendo atacadas por espíritos do Mal, até dá para entender a origem da ofensa "Vai tomar seu gardenal, sua louca". Por outro lado, se a pessoa repete esse pseudo-xingamento sem nem saber se ele faz sentido, considero praticamente impossível que ela tenha tido interesse ou capacidade de pesquisar o tema com toda a profundidade necessária para saber disso.
Infelizmente, a ciência ainda não desenvolveu um medicamento capaz de tratar a Síndrome do Papagaio. É uma pena, pois realmente acredito que isso acabaria com inúmeros tipos de preconceito (sempre oriundos da falta de informação). Já que não dá para pedir para o governo incluir senso crítico e informação no Farmácia Popular, vou me contentar em pedir para que, pelo menos, a ofensa do gardenal seja abandonada. E, se for muito incapacitante abandonar o hábito de ofender pessoas gratuitamente, que você se informe antes de fazer isso. Vai continuar não sendo legal, mas, pelo menos, você vai demonstrar não ter séculos de desinformação.