quarta-feira, 14 de março de 2012

Carta para te lembrar de tudo que sempre quis

 
Campo Grande, MS
14/03/2012, 03:34 a.m

Sempre quis alguém que me visse como eu sou. Que percebesse os meus sinais e minha cara amarrada. Que entendesse que meu sorriso às vezes é um simples disfarce e que minhas brincadeiras sérias são meu jeito de dizer: "Eu gosto de você!". E que, no fundo, sou uma pessoa que pode não dar valor à atos corriqueiros mas, mesmo assim, sente tudo de forma intrinsecamente intensa. Sempre quis alguém que me ouvisse. Não as bobagens que falo de vez em sempre e que, na maioria das vezes, só interessam a mim. Mas o que minha alma teima mas não sabe dizer. Que fizesse esforço para captar tudo que não sai da minha boca mas extravasa no coração. Sempre quis uma pessoa que fosse de verdade. Que tivesse um sorriso puro; que respeitasse minhas limitações e, mesmo assim, me admirasse. E, principalmente, uma pessoa que soubesse o significado da palavra "verdade" - como na tatuagem que tenho na pele. Sempre quis alguém com personalidade. Não precisava ter os mesmos gostos e desgostos. Não precisava curtir as mesmas músicas e filmes. E se não gostasse de pizza de calabresa, tudo bem. Personalidade é importante. Autenticidade também. É que a gente nunca pode esquecer de quem é. Sempre quis alguém com defeitos. É que aquela fase de querer uma pessoa romântica, loira de olhos azuis, carinhosa, rica e romântica já passou. Depois de um tempo, a gente percebe que existem coisas muito mais importantes do que um par de olhos azuis - isso é pura variação fenotípica e genotípica. Além do mais, perfeição não existe. Ninguém é bonito, carinhoso e divertido o tempo todo. Amor de filme fica no script. Sempre quis alguém que me apoiasse. Que não achasse besteira os meus sonhos. Que me desse força em cada projeto e que me emprestasse o ombro a cada desilusão - porque se perfeição não existe, apresento-lhe algo quase mais existente que nossos cem bilhões de neurônios: a desilusão. Sempre quis alguém maduro mas sem perder a leveza infantil de ser. Que me tirasse das nuvens e, se possível, da Via Láctea de vez em quando. Que me mostrasse novos caminhos, outros atalhos de "como chegar lá". Sempre quis alguém para sonhar junto comigo. Porque a gente espera muito pelo futuro e quando o amor chega, não tem nada melhor do que ir em busca do que virá de mãos dadas, mochila nas costas e olhos no horizonte. Hoje eu entendo o quê eu sempre quis. Ainda bem que tenho.