terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sobre o aborto e outros preconceitos


No Brasil, a maioria do povo é contra o aborto, contra o casamento entre homossexuais, contra o desarmamento, contra leis que asseguram o estado laico, contra a descriminalização da maconha, etc. Isso é decorrente, entre outros fatores, de uma influência religiosa ainda muito marcante em nossa sociedade – o que tem travado a aprovação de propostas que fariam o país avançar para um ambiente mais civilizado – e também pela força das dezenas de partidos conservadores presentes nessa incessante disputa política que toma conta da nossa pátria amada.
Quando falamos em respeitar os direitos humanos, os direitistas falam que estamos ao lado dos bandidos; quando defendemos cotas para negros e pobres, eles dizem que estamos premiando a ignorância; quando dizemos que o corpo da mulher pertence a ela e ela deve decidir sobre ele, os reacionários dizem que o corpo pertence a Deus e que as regras do tal Deus é que devem prevalecer e nos acusam ainda de estarmos propondo o assassinato de crianças indefesas; quando se pretende punir os pais que surram os filhos, eles vem com o argumento de intromissão do governo em assuntos domésticos; quando propomos a união entre homossexuais e o combate contra a homofobia eles dizem que estamos fazendo campanha para o povo fazer "opção" pela homossexualidade; quando defendemos o desarmamento, eles afirmam que queremos desarmar o povo e deixar os bandidos bem armados; quando combatemos o racismo, eles dizem que estamos pregando o ódio entre as "raças-irmãs"; se somos contra o ensino de religião nas escolas, falam que somos ateus materialistas e que queremos proibir a bíblia. Quando defendemos programas sociais para o povo pobre, eles falam em assistencialismo e estímulo à preguiça, quando defendemos pesquisas com células-tronco para a cura de doenças, eles falam que estamos ameaçando as leis divinas; quando bradamos contra o machismo eles dizem que essa é a tradição brasileira e que esta não deve ser tocada; quando queremos investigar os crimes da ditadura, eles nos acusam de revanchistas. 
Como se vê, os preconceituosos e os obscurantistas dos vários tipos têm argumento contra tudo que signifique um mundo mais arejado, mais tolerante, mais civilizado. O pior de tudo é que, vez por outras, surgem pessoas tidas como de “esquerda”, que (em tese) deveriam estar ao lado de causas libertárias.
O objetivo desse texto não é entrar no mérito da polêmica, já bastante explorada por tantos que se manifestam na mídia sensacionalista. O que trago aqui é um pedido para que deixemos as críticas levianas e hipócritas de lado e abramos espaço para discussões táteis e racionais à priori de um direito intrínseco do ser humano e que espírito, partido ou legislação alguma jamais poderá contestar: a dignidade. Porquê é disso que nossas Severinas precisam.

"Não é verdade que alguns sejam a favor e outros contrários a ele [aborto]. Todos são contra esse tipo de solução, principalmente os milhões de mulheres que se submetem a ela anualmente por não enxergarem alternativa. É lógico que o ideal seria instruí-las para jamais engravidarem sem desejá-lo, mas a natureza humana é mais complexa: até médicas ginecologistas ficam grávidas sem querer." (Drauzio Varella)

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