domingo, 23 de setembro de 2012

O sonho e seu papel na teoria da evolução



Sei que você pode discordar, mas os seres humanos são animais que hibernam. No final de cada dia, um relógio (biológico) impiedoso fecha nossos olhos e nos desliga do mundo. No início do sono, somos invadidos por pensamentos formados por imagens fragmentadas - os minidramas. À medida que o sono se aprofunda, surgem fases caracterizadas por ondas cerebrais irregulares semelhantes às que viajam pelo cérebro nos nossos momentos de vigília: são conhecidas como as fases (ou sono) REM – do inglês Rapid Eye Movement. O primeiro período REM do ciclo do sono dura 90 minutos; o segundo e o terceiro são mais longos; o quarto, mais curto, termina em 20 ou 30 minutos, com o despertar. Caracteristicamente, os sonhos ocorrem apenas durante esses períodos de movimentos oculares rápidos. Desde os tempos mais remotos, os homens procuraram decifrar o significado dos sonhos. Muitas civilizações antigas atribuíam-lhes valor premonitório - seriam mensagens (divinas) capazes de prever acontecimentos futuros. Já Freud, pai da psicanálise, via neles a estrada que levava ao inconsciente, imaginava que revelariam, mesmo que disfarçada e inconscientemente, os segredos da vida interior. A partir da segunda metade do século XX, muitos pesquisadores passaram a considerar os sonhos como desprovidos de qualquer sentido. Ou seja, mero resultado de descargas da atividade elétrica cerebral. Seriam uma forma de nos livrarmos do excesso de informação arquivada em regiões cerebrais subcorticais. Estudos mais recentes, no entanto, mostraram que quase todos os mamíferos sonham. Como, na evolução, uma atividade só se mantém conservada em tantas espécies se conferir alguma vantagem vital, os sonhos começaram a ser interpretados como estratégias individuais de sobrevivência. O sonho refletiria um mecanismo de processamento da memória herdado das espécies que nos antecederam na evolução. Nele, as informações essenciais para a sobrevivência seriam recombinadas e arquivadas. Como herdamos a capacidade de sonhar de nossos ancestrais e como os animais não possuem linguagem, as informações processadas durante nossos sonhos são obrigatoriamente sensoriais. Por isso, eles são repletos de imagens e nunca adquirem uma forma de narrativa verbal. Como diz Jonathan Wilson, pesquisador da Universidade da Califórnia: “Os enredos dos sonhos humanos são complexos, envolvem largo espectro de sensações, auto-imagem, medo, insegurança, ideias grandiosas, orientação sexual, desejo, ciúmes e amor”. E aí, ainda vai continuar dizendo que seus sonhos não têm significado algum?

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