Sei
que você pode discordar, mas os seres humanos são animais que hibernam. No
final de cada dia, um relógio (biológico) impiedoso fecha nossos olhos e nos
desliga do mundo. No início do sono, somos invadidos por pensamentos formados
por imagens fragmentadas - os minidramas. À medida que o sono se aprofunda,
surgem fases caracterizadas por ondas cerebrais irregulares semelhantes às que
viajam pelo cérebro nos nossos momentos de vigília: são conhecidas como as
fases (ou sono) REM – do inglês Rapid Eye Movement. O primeiro período
REM do ciclo do sono dura 90 minutos; o segundo e o terceiro são mais longos; o
quarto, mais curto, termina em 20 ou 30 minutos, com o despertar.
Caracteristicamente, os sonhos ocorrem apenas durante esses períodos de
movimentos oculares rápidos. Desde os tempos mais remotos, os homens procuraram
decifrar o significado dos sonhos. Muitas civilizações antigas atribuíam-lhes
valor premonitório - seriam mensagens (divinas) capazes de prever
acontecimentos futuros. Já Freud, pai da psicanálise, via neles a estrada que
levava ao inconsciente, imaginava que revelariam, mesmo que disfarçada e
inconscientemente, os segredos da vida interior. A partir da segunda metade do
século XX, muitos pesquisadores passaram a considerar os sonhos como desprovidos
de qualquer sentido. Ou seja, mero resultado de descargas da atividade elétrica
cerebral. Seriam uma forma de nos livrarmos do excesso de informação arquivada
em regiões cerebrais subcorticais. Estudos mais recentes, no entanto, mostraram que quase
todos os mamíferos sonham. Como, na evolução, uma atividade só se mantém
conservada em tantas espécies se conferir alguma vantagem vital, os sonhos
começaram a ser interpretados como estratégias
individuais de sobrevivência. O sonho refletiria um mecanismo de processamento
da memória herdado das espécies que nos antecederam na evolução. Nele, as
informações essenciais para a sobrevivência seriam recombinadas e arquivadas. Como
herdamos a capacidade de sonhar de nossos ancestrais e como os animais não
possuem linguagem, as informações processadas durante nossos sonhos são
obrigatoriamente sensoriais. Por isso, eles são repletos de imagens e nunca
adquirem uma forma de narrativa verbal. Como diz Jonathan Wilson, pesquisador
da Universidade da Califórnia: “Os enredos dos sonhos humanos são complexos,
envolvem largo espectro de sensações, auto-imagem, medo, insegurança, ideias
grandiosas, orientação sexual, desejo, ciúmes e amor”. E aí, ainda vai continuar
dizendo que seus sonhos não têm significado algum?
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