terça-feira, 4 de setembro de 2012

Somos neuróticos



Pessoas vivem juntas e não sabem nada uma da vida da outra. Nem querem saber. É cada um por si. Qualquer desentendimento é motivo para nem mais olhar na cara do outro. A “culpa” não é individual, mas de um sistema que suga a essência do ser humano e nos torna intolerantes. Na correria do dia-a-dia, acabamos por nos esquecer de desfrutar da natureza. A natureza do corpo, que gosta de ar puro, de céu à vista, das estrelas, de muitas árvores, flores, frutas e vegetais fresquinhos e sem veneno, de banho de lago e de cascata, de caminhar na mata, de movimento, dança e brincadeira. Também tem a natureza do coração, que gosta de amigos perto pra conversar, rir, chorar, abraçar, namorar, dividir tarefas, amar. E a natureza do espírito, que se sente livre pra explorar possibilidades, pra expandir, pra compartilhar, pra crescer. Todos sempre têm o que aprender uns com os outros. Somos um grupo de amigos se atrevendo a criar uma vida diferente dos padrões convencionais. Sigmund Freud disse que o ser humano nasce neurótico. Para o mestre indiano Osho, essa é uma meia-verdade. “O ser humano não nasce neurótico, mas numa humanidade neurótica. A sociedade à volta mais cedo ou mais tarde leva todos à neurose. O ser humano nasce natural, real e normal, mas no momento em que o recém-nascido se torna parte da sociedade, a neurose começa a funcionar.” Como somos, somos neuróticos. E a neurose consiste numa profunda divisão. Não somos uno, mas sim dois ou mesmo muitos. Nosso sentimento e nosso pensamento se tornaram duas coisas diferentes, e essa é a neurose básica. Estamos mais identificados com a parte pensante do que com a que sente. E o sentir é mais real e natural do que o pensar. Nascemos com órgãos sensoriais, o pensamento é cultivado pela sociedade. Nosso sentimento se tornou algo suprimido. Mesmo quando dizemos que sentimos, pensamos que sentimos. O sentimento se tornou morto e isso aconteceu por diversas razões. Quando uma criança nasce, ela é um ser que sente. Ainda não é um ser pensante. Ela é natural. Mas começamos a moldá-la, a cultivá-la. Ela precisa suprimir seus sentimentos, senão estará sempre em dificuldades. “Não chore, não fique com raiva, não morda, não grite”, dizem os pais. Ela não é aceita como ela é. Precisa se comportar de acordo com normas para ser amada. Assim, o ser natural começa a ser suprimido e o não-natural, o irreal, lhe é imposto desde muito cedo. Esse “irreal” é a sua mente e chega um momento em que a divisão é tão grande que não se pode construir uma ponte. A face original se perdeu. E você fica com medo de sentir a sua originalidade, pois no momento em que a sentir, toda a sociedade ficará contra você. Isso cria um estado muito neurótico. Você não sabe o que quer, quais são suas necessidades reais e autênticas, qual caminho seguir - então caminha em direção a necessidades simbólicas. Por exemplo: você pode comer sem parar e nunca se sentir satisfeito. A necessidade é de amor e não de comida, mas comida e amor estão profundamente relacionados. Portanto, quando a necessidade de amor não é sentida ou é suprimida, é criada uma falsa necessidade de comida. Vivemos com necessidades falsas e é por isso que não existe satisfação. Ter consciência da nossa neurose é o primeiro passo para buscar a integridade do nosso ser. Pense nisso.

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