A Cannabis sativa vem sendo utilizada como medicamento há pelo menos
5.000 anos atrás, inicialmente na Ásia e Ásia menor. Atinge a Europa na época
das Cruzadas (ou talvez até antes) e o apogeu de seu uso médico dá-se no século
XIX. Passa-se então a ser citada em muitos livros médicos sendo largamente
utilizada para casos de dores neuropáticas. Na primeira metade do século XX, a
maconha é totalmente combatida, sendo considerada como "a erva do diabo".
Entretanto, a partir da segunda metade do século XX e no presente século,
descobertas científicas básicas e clínicas de vulto estão trazendo novamente a
maconha como um medicamento valioso. Ressalta-se ainda a grande importância da
descoberta de um sistema canabinóide intrinsecamente presente no cérebro humano. A Organização Mundial de Saúde tem protocolos específicos que autorizam o uso médico da maconha como medicamento, sob supervisão e normatização do Ministério da Saúde de cada país que o julgue necessário. Países como os Estados Unidos da América e a Holanda, também, mantém esta forma de tratamento. A recomendação do Comitê Assessor sobre álcool e drogas para o Ministério da Saúde do Brasil é que este deve defender a continuidade das pesquisas nessa área. Apesar do tratamento já ter sido adotado na Europa e nos Estados Unidos, no Brasil ainda não são produzidos medicamentos com essa droga. Por trás disso há inúmeros problemas, como a falta de controle na produção e comercialização da maconha e os embargos políticos. O Professor-doutor
Elisando Carlini, médico
pela Escola Paulista de Medicina (1957), Master of Science pela Yale University
(1962) e Professor Visitante de Pesquisas do Mount Sinai School of Medicine, N.
York (1970), membro Titular do International Narcotics Control Board (INCB)
órgão ligado à ONU (2002-2007) e eleito pela comunidade Científica Internacional, fundador do Departamento de Psicobiologia da EPM/UNIFESP e professor-titular do
mesmo; atualmente aposentado e lotado no Departamento de Medicina
Preventiva/UNIFESP. Fundador e Diretor do CEBRID (Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicos) fala sobre essa temática em uma de suas (magníficas) aulas na faculdade de Medicina da UNIFESP. Vale a pena conferir!
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
domingo, 23 de setembro de 2012
O sonho e seu papel na teoria da evolução
Sei
que você pode discordar, mas os seres humanos são animais que hibernam. No
final de cada dia, um relógio (biológico) impiedoso fecha nossos olhos e nos
desliga do mundo. No início do sono, somos invadidos por pensamentos formados
por imagens fragmentadas - os minidramas. À medida que o sono se aprofunda,
surgem fases caracterizadas por ondas cerebrais irregulares semelhantes às que
viajam pelo cérebro nos nossos momentos de vigília: são conhecidas como as
fases (ou sono) REM – do inglês Rapid Eye Movement. O primeiro período
REM do ciclo do sono dura 90 minutos; o segundo e o terceiro são mais longos; o
quarto, mais curto, termina em 20 ou 30 minutos, com o despertar.
Caracteristicamente, os sonhos ocorrem apenas durante esses períodos de
movimentos oculares rápidos. Desde os tempos mais remotos, os homens procuraram
decifrar o significado dos sonhos. Muitas civilizações antigas atribuíam-lhes
valor premonitório - seriam mensagens (divinas) capazes de prever
acontecimentos futuros. Já Freud, pai da psicanálise, via neles a estrada que
levava ao inconsciente, imaginava que revelariam, mesmo que disfarçada e
inconscientemente, os segredos da vida interior. A partir da segunda metade do
século XX, muitos pesquisadores passaram a considerar os sonhos como desprovidos
de qualquer sentido. Ou seja, mero resultado de descargas da atividade elétrica
cerebral. Seriam uma forma de nos livrarmos do excesso de informação arquivada
em regiões cerebrais subcorticais. Estudos mais recentes, no entanto, mostraram que quase
todos os mamíferos sonham. Como, na evolução, uma atividade só se mantém
conservada em tantas espécies se conferir alguma vantagem vital, os sonhos
começaram a ser interpretados como estratégias
individuais de sobrevivência. O sonho refletiria um mecanismo de processamento
da memória herdado das espécies que nos antecederam na evolução. Nele, as
informações essenciais para a sobrevivência seriam recombinadas e arquivadas. Como
herdamos a capacidade de sonhar de nossos ancestrais e como os animais não
possuem linguagem, as informações processadas durante nossos sonhos são
obrigatoriamente sensoriais. Por isso, eles são repletos de imagens e nunca
adquirem uma forma de narrativa verbal. Como diz Jonathan Wilson, pesquisador
da Universidade da Califórnia: “Os enredos dos sonhos humanos são complexos,
envolvem largo espectro de sensações, auto-imagem, medo, insegurança, ideias
grandiosas, orientação sexual, desejo, ciúmes e amor”. E aí, ainda vai continuar
dizendo que seus sonhos não têm significado algum?
terça-feira, 18 de setembro de 2012
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Somos neuróticos
Pessoas vivem juntas e não sabem nada uma da vida da outra. Nem querem saber. É cada um por si. Qualquer desentendimento é motivo para nem mais olhar na cara do outro. A “culpa” não é individual, mas de um sistema que suga a essência do ser humano e nos torna intolerantes. Na correria do dia-a-dia, acabamos por nos esquecer de desfrutar da natureza. A natureza do corpo, que gosta de ar puro, de céu à vista, das estrelas, de muitas árvores, flores, frutas e vegetais fresquinhos e sem veneno, de banho de lago e de cascata, de caminhar na mata, de movimento, dança e brincadeira. Também tem a natureza do coração, que gosta de amigos perto pra conversar, rir, chorar, abraçar, namorar, dividir tarefas, amar. E a natureza do espírito, que se sente livre pra explorar possibilidades, pra expandir, pra compartilhar, pra crescer. Todos sempre têm o que aprender uns com os outros. Somos um grupo de amigos se atrevendo a criar uma vida diferente dos padrões convencionais. Sigmund Freud disse que o ser humano nasce neurótico. Para o mestre indiano Osho, essa é uma meia-verdade. “O ser humano não nasce neurótico, mas numa humanidade neurótica. A sociedade à volta mais cedo ou mais tarde leva todos à neurose. O ser humano nasce natural, real e normal, mas no momento em que o recém-nascido se torna parte da sociedade, a neurose começa a funcionar.” Como somos, somos neuróticos. E a neurose consiste numa profunda divisão. Não somos uno, mas sim dois ou mesmo muitos. Nosso sentimento e nosso pensamento se tornaram duas coisas diferentes, e essa é a neurose básica. Estamos mais identificados com a parte pensante do que com a que sente. E o sentir é mais real e natural do que o pensar. Nascemos com órgãos sensoriais, o pensamento é cultivado pela sociedade. Nosso sentimento se tornou algo suprimido. Mesmo quando dizemos que sentimos, pensamos que sentimos. O sentimento se tornou morto e isso aconteceu por diversas razões. Quando uma criança nasce, ela é um ser que sente. Ainda não é um ser pensante. Ela é natural. Mas começamos a moldá-la, a cultivá-la. Ela precisa suprimir seus sentimentos, senão estará sempre em dificuldades. “Não chore, não fique com raiva, não morda, não grite”, dizem os pais. Ela não é aceita como ela é. Precisa se comportar de acordo com normas para ser amada. Assim, o ser natural começa a ser suprimido e o não-natural, o irreal, lhe é imposto desde muito cedo. Esse “irreal” é a sua mente e chega um momento em que a divisão é tão grande que não se pode construir uma ponte. A face original se perdeu. E você fica com medo de sentir a sua originalidade, pois no momento em que a sentir, toda a sociedade ficará contra você. Isso cria um estado muito neurótico. Você não sabe o que quer, quais são suas necessidades reais e autênticas, qual caminho seguir - então caminha em direção a necessidades simbólicas. Por exemplo: você pode comer sem parar e nunca se sentir satisfeito. A necessidade é de amor e não de comida, mas comida e amor estão profundamente relacionados. Portanto, quando a necessidade de amor não é sentida ou é suprimida, é criada uma falsa necessidade de comida. Vivemos com necessidades falsas e é por isso que não existe satisfação. Ter consciência da nossa neurose é o primeiro passo para buscar a integridade do nosso ser. Pense nisso.
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