quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Demarcação: a quem interessa?

Certa vez, ouvindo a rádio 94 FM de Dourados, ouví a entrevista de um índio guarani, de nome Acácio, que foi reclamar sobre o descaso com que ele e sua família estavam sendo tratados pela Funai e Funasa.
Suas palavras doídas, vindas do fundo de seu coração, tocadas pela revolta, davam conta que dois membros de sua família estavam a mercê de morrerem por falta de tratamento.
Com seu linguajar simples, Acácio fazia sua denúncia dizendo: "É, seu 'Marçá'. A situação 'tá pecuária'" (queria dizer "precária"). E concluiu: "Índio só abre a boca quando morre".
Nenhuma providência foi tomada. Tempos depois, a manchete nas primeiras páginas dos jornais era: "FOME MATA CRIANÇAS NA ALDEIA". As crianças - subnutridas - nas quais as manchetes referiam-se eram os filhos de Acácio, que deram entrada no hospital da cidade pesando; uma delas, 6kg e 700g. E a outra, apenas 4kg.
Maior do que a falta de pessoal, veículos e medicamentos é o déficit de responsabilidade vinda dos únicos órgãos de proteção que esse povo têm.
A verdade é que, enquanto nossos irmãos morrem de fome, a política errada de conduzir suas vidas continua como motivo para um verdadeiro cabide de empregos.
Enquanto isso, nossas autoridades impedem o arrendamento das terras das reservas indígenas para agricultores que poderiam possibilitar uma renda que impediria que nossos pequenos índios morressem de fome.
A função das nossas "excelentíssimas" autoridades não é destinada à um público restrito. Vale lembrar que suas funções devem ser isentas e imparciais, em benefício de todos os brasileiros, independente de sua origem, raça, cor e/ou crença.
Se terras têm que ser demarcadas como terras indígenas, todo o Brasil deve ser demarcado; começando pelas áreas mais tradicionais do país, aquelas reconhecidamente indígenas.
Precisamos - e devemos - viver como irmãos que somos, cada um preservando seus costumes, línguas, tradições e crenças. Sem a interferência de quem quer que seja. Com políticas coerentes que possam viabilizar a vida de todos: índios e não índios. Cada um respeitando os limites uns dos outros.
Aí sim, provaremos que Acácio - o índio que perdeu dois filhos por desnutrição - estava errado.
Índio também abre a boca... para sorrir!
"É pela paz que eu não quero seguir,
é pela paz que eu não quero seguir admitindo."

3 comentários:

Vini Ferreira disse...

É Le, índio também abre a boca par sorrir, e toda vez q vejo isso acontecer sinto uma certa culpa, por naum fazer de fato algo concreto pra mudar essa situção! É deprimente o que nós "brancos" deixamos acontecer, nós, que nos julgamos superiores a eles, nós que deixamos marginalizar uma cultura tão rica e tão resposável por grande parte (não que "grande" seja muita coisa, mas enfim) do que o Brasil é. A situação indígena reflete o nós brasileiros desejamos para o Brasil, descaso, corrupção, impunidade, miséria...

O que eles precisam e necessitam é apenas serem tratados como qualquer um de nós somos... HUMANOS!

Vini Ferreira disse...

É Le, índio também abre a boca par sorrir, e toda vez q vejo isso acontecer sinto uma certa culpa, por naum fazer de fato algo concreto pra mudar essa situção! É deprimente o que nós "brancos" deixamos acontecer, nós, que nos julgamos superiores a eles, nós que deixamos marginalizar uma cultura tão rica e tão resposável por grande parte (não que "grande" seja muita coisa, mas enfim) do que o Brasil é. A situação indígena reflete o nós brasileiros desejamos para o Brasil, descaso, corrupção, impunidade, miséria...

O que eles precisam e necessitam é apenas serem tratados como qualquer um de nós somos... HUMANOS!

thiguinho disse...

Nossa Lê.. fiquei admirado com o seu texto. Será que está nascendo atrás destas palavras um jornalista? um escritor? um crítico? ou um opinador inteligente que falta na nossa sociedade?
poucas pessoas pensam nos índios, patrimônio histórico vivo de nossa nação, e verdadeiros donos desta terra que nos acolhe.
muito legal o seu texto.. muito mesmo. fico muito feliz em ver uma idéia tão bem ilustrada das demarcações de nossas culturas. enquanto aí o índio é tratado desta forma, em SP, para construção do rodoanel, eles tentam provar que um grupo indigena não faz parte de uma reserva florestal que está pra ser desmatada. fazer o q!!!!

abçss
Thi!